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Entrevista à Presidente da UEG, Professora Helena Cortez Pinto

Temos o prazer de dar continuidade às nossas ”SPG em conversas” com uma conversa com a atual presidente da United European Gastroenterology (UEG), a Professora Helena Cortez Pinto.

Cara Professora Helena:

1. Quais são as responsabilidades da Presidente da UEG?

Como presidente da UEG e em conjunto com o Comité Executivo, a minha missão é planear e orientar as grandes linhas de funcionamento e progressão da UEG. A UEG tem diversos comités e grupos de trabalho, que funcionam extremamente bem, com um representativo próprio. Em cada Conselho (UEG Council), o representativo do seu comité informa-nos das atividades recentes e dos planos para o futuro na sua área. O Comité Executivo dá então as suas recomendações em relação aos planos propostos, ou eventuais alterações .Existe uma grande autonomia e liberdade nestes comités, o que dá muita riqueza à estrutura no conjunto. É também da nossa responsabilidade, a criação do plano estratégico da UEG para os 4 anos seguintes, neste caso 2023-2026,definindo as linhas mestras de ação. Para além disso, ficam a nosso cargo todas as ações que devem ser tomadas de imediato, perante situações concretas, como foi por exemplo o início da guerra na Ucrânia, e o apoio que a UEG proporcionou. Contamos com o apoio de um secretariado muito eficiente e proativo que facilita a concretização destes planos eatividades.2.O que significou para si este mandato? Este mandato teve para mim um enorme significado. Permitiu-me conhecer uma estrutura e uma comunidade muito bem funcionante, e contribuir para a mudança de forma positiva de vários aspectos da Gastrenterologia e da interação das suas diferentes áreas, fazendo assim a diferença. Verifiquei que em muitos aspetos isso não é fácil, uma vez que existem diferentes objetivos nas Sociedades. Tentei também tanto quanto me foi possível, estabelecer entre as diferentes Sociedades Nacionais mais estudos e plataformas comuns relevando assim a importância da Gastrenterologia a nível Europeu, e permitindo um melhor conhecimento da realidade de Gastrenterologia Europeia. Permitiu-me também interagir e conhecer pessoas e grupos muito interessantes, tentando encontrar o equilíbrio entre orientação epragmatismo.

3.Qual o significado de ser a primeira mulher a ser eleita Presidente da UEG?

Foi para mim importantíssimo, e deu-me muita satisfação. Duma forma geral, ao longo dos anos, as mulheres nunca tiveram oportunidade de revelar a grande capacidade e valor que têm. Essa limitação de oportunidades, é em grande prejuízo da Sociedade e das Mulheres. A pluralidade de género enriquece muito qualquer grupo, dando-lhe uma visão mais abrangente. Entre as formas de contribuir para esta alteração, o exemplo parece-me fundamental. O facto de uma mulher conseguir chegar a uma posição ou ter sucesso numa área, leva a que outras mulheres reconheçam que isso é possível e que vale a pena o esforço. Prova disso, no caso da UEG, é o grande número de mulheres que têm vindo a candidatar-se e a ocupar posições de relevo. Efetivamente o nosso UEG council, tem agora o mesmo número de homens e de mulheres, o que nunca tinha acontecido antes. De notar que o Comité para a Igualdade e Diversidade, tem tidoum papel muito importante, uma vezesta mudança tem que ser proativa.

4.Qual é o impacto para a Gastrenterologia Portuguesa de ter uma representante num cargo como este?Acho que foi um impacto muito positivo, uma vez que somos um país que até há alguns anos não tinha grande expressividade em termos de produção científica ou de visibilidade nas estruturas da Gastrenterologia Europeia ou Mundial. Foi também interessante que simultaneamente outros colegas portugueses assumissem posições de relevo na Gastrenterologia Europeia ou Mundial. Penso que a importância de Portugal e dos Portugueses vai crescer nos próximos anos, uma vez que há muitos jovens com grande interesse e posições na UEG.

5.O que nos diferencia em relação aos colegas de outros países da Europa?

Na minha opinião falta algum espírito de colaboração e desejo de colaborar em estudos multicêntricos, nacionais ou internacionais que dariam mais visibilidade à Gastrenterologia Portuguesa. No entanto do ponto de vista individual não me parece que haja diferenças significativas, do ponto vista de capacidade. Poderá ser menos valorizada a atividade de investigação, o que poderá estar em relação com fracos estímulos económicos, quer aopróprio médico ou ao financiamento da investigação.

6.Quais são na sua opinião os principais desafios que a Gastrenterologia Portuguesa e Europeia vive?

Parece-me que tanto a Gastrenterologia Portuguesa como a Europeia necessitam de definição mais exata de programas e critérios de despiste para patologias frequentes, como sejam o cancro do cólon ou o carcinoma hepatocelular. Existe também falta de reconhecimento da importância das doenças gastrenterológicas a nível dos decisores políticos, seja a nível da União Europeia ou dos diferentes Países Membros. Isto é sobretudo importante a nível da prevenção primária. Exemplos, são a necessidade de criar um ambiente propício a estilos de vida saudáveis, como sejam através dos impostos acrescidos em produtos potencialmente nocivos, ou o incentivo à produção e venda de produtos saudáveis. Também são necessárias alterações das estruturas arquiteturais das cidades no sentido de promover a atividade física. Finalmente, deve estar disponível o melhor cuidado aos doentes, quer a nível de diagnóstico endoscópico ou outro, quer a nível de tratamento