Pesquisa

Erros comuns

Erros Comuns na abordagem nutricional do doente com cirrose hepática

Joana Nunes

Hospital Beatriz Ângelo & Hospital da Luz

1) Não abordar a desnutrição como as outras complicações da cirrose hepática

A desnutrição afeta cerca de 90% dos doentes com cirrose hepática descompensada e tem um impacto negativo no prognóstico destes doentes, associando-se a um aumento da mortalidade e morbilidade. A causa da desnutrição nestes doentes é multifatorial. Devido à diminuição da reserva de glicogénio hepático, um jejum de 10 horas num doente com cirrose hepática equivale a 3 dias de jejum num indivíduo saudável.

2) Não explicar ao doente e à família a importância da nutrição

É fundamental informar o doente e a sua família a importância de uma adequada nutrição. Explicar, com mensagens simples e claras, que o doente deve comer várias vezes ao dia (3 em 3 horas), evitar períodos de jejum prolongado através de um snack noturno (21 h-23 h) e ingerir alimentos ricos em proteínas, incluindo suplementos proteicos. A atividade física é também essencial para evitar a sarcopenia e a fragilidade destes doentes.

3) Exagerar nas restrições alimentares

Não se deve enfatizar restrições alimentares nos doentes com cirrose hepática porque estes doentes já têm a ingesta alimentar diminuída por: restrições alimentares associadas a comorbilidades; dieta sem sal; restrição hídrica; anorexia; disgeusia; saciedade precoce. Exceto o álcool, não deve haver alimentos proibidos. A prioridade é evitar a desnutrição.

4) Utilizar dietas hipoproteicas

As dietas hipoproteicas utilizadas no passado para o manejo da encefalopatia hepática não são recomendadas. Não foi demonstrado que melhorassem o episódio de encefalopatia e contribuem para agravamento do estado nutricional destes doentes. Nos doentes com cirrose hepática, devem ser utilizadas dietas hiperproteicas. A dieta hipercalórica está também recomendada (exceto se o doente for obeso).

5) Não incluir a sarcopenia na avaliação para transplante hepático

A desnutrição aumenta a mortalidade nos doentes em lista de espera para transplante hepático e também a mortalidade após o transplante. Por este motivo, a sarcopenia e a desnutrição são fatores determinantes para entrada em lista de transplante hepático.

Referências

  1. Merli M, Berzigotti A, Zelber-Sagi S, et al. J Hepatol 2019; 70: 172–193.
  2. Traub J et al. Nutrients 2021. https://doi.org/10.3390/nu13020540