Diogo Simas, André Ruge Gonçalves, Pedro Russo, Helena Vasconcelos | Serviço de Gastrenterologia da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria
Um homem de 83 anos recorreu ao serviço de urgência por hematoquezias com instabilidade hemodinâmica e, neste contexto, repetiu endoscopia digestiva alta e baixa, sem sangue no lúmen ou causa evidente de hemorragia. Como antecedentes apresentava esclerose sistémica com uma doença de refluxo gastroesofágica, obstipação e gastroparesia secundárias difíceis de controlar com terapia médica e vários episódios de hemorragia digestiva manifesta obscura – endoscopia digestiva alta e baixa prévias sem fontes de hemorragia; cápsula de patência retida, pelo que não é elegível para enteroscopia por cápsula; enteroscopia por ressonância revelou “marcada dilatação de todas as ansas do intestino delgado, com 5cm de calibre e preservação das pregas e padrão em acordeão caraterístico da doença; sem realces anómalos da parede ou massas com captação de contraste”. Atendendo à resolução espontânea da hemorragia e ao risco de obstrução da cápsula, optou-se por não progredir no estudo etiológico. Encontrava-se medicado com esomeprazol, domperidona, clebuprida, azilsartan e rifaximina.
A esclerose sistémica é uma doença autoimune que causa fibrose e disfunção em diversos órgãos, incluindo os do tubo digestivo. O comprometimento gastrointestinal é comum na doença e pode causar uma variedade de sintomas e complicações. No tubo digestivo superior a disfagia por hipomotilidade esofágica, os sintomas de doença de refluxo gastroesofágico e as náuseas e vómitos da gastroparesia são os sintomas predominantes da doença. Neste caso, podemos ver um duodeno de tal forma dilatado que na passagem para DII proximal, se observa o bulbo em inversão com a papila de Vater em simultâneo. A dilatação dos órgãos do tubo digestivo é um achado frequente na doença, conforme visualizado na imagem.