Doente do sexo masculino, 34 anos, com antecedentes de imunodeficiência comum variável e adenocarcinoma do cólon sigmoide, submetido a colectomia total complicada com deiscência da anastomose íleo-retal com necessidade de múltiplas intervenções cirúrgicas e ileostomia terminal. Após 6 meses, foi internado por ileostomia de alto débito com distúrbios hidroeletrolíticos graves e défices nutricionais associados. Analiticamente apresentava anticorpo anti-transglutaminase IgA <7UI/L, porém com défice de IgA. A endoscopia digestiva alta revelou mucosa duodenal com aspecto nodulariforme. Colonoscopia sem alterações. Na videocápsula endoscópica, a mucosa duodenal e jejunal apresentava atrofia vilositária, eritema, fissuras e extensas áreas com padrão em mosaico.

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O exame anatomopatológico revelou marcada atrofia vilositária, hiperplasia de criptas e linfocitose intraepitelial (Marsh 3c). Perante o diagnóstico de crise celíaca, iniciou tratamento com corticoterapia endovenosa e nutrição parentérica total. Ao longo do internamento apresentou evolução clínica favorável, com diminuição progressiva da drenagem pela ileostomia. Analiticamente com correção progressiva dos distúrbios hidroeletrolíticos e défices nutricionais. Fez switch para corticoterapia oral e iniciou dieta isenta de glúten, com boa tolerância. Dada a estabilidade clínica, teve alta com corticoterapia em esquema de desmame. Dois meses após a alta hospitalar, apresentava ótimo estado geral, com ganho ponderal de 15kg.

Os autores relatam uma apresentação rara da doença celíaca, com achados endoscópicos exuberantes. A crise celíaca caracteriza-se por diarreia de início agudo com graves distúrbios metabólicos e eletrolíticos associados. Esta entidade está associada a uma elevada morbimortalidade, pelo que o diagnóstico atempado é fundamental.

 

Isabel Garrido, Ana Luísa Santos, Armando Peixoto, Hélder Cardoso, Patrícia Andrade, Guilherme Macedo

Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Universitário de São João, Porto, Portugal