CASE REPORT

Doente do sexo masculino, 77 anos, sem antecedentes patológicos relevantes e sem hábitos medicamentosos. Recorreu ao Serviço de urgência por quadro clínico com 2 dias de evolução caracterizado por dor abdominal generalizada agravada pela ingestão alimentar, vómitos, distensão abdominal e paragem de emissão de gases e fezes. Referia ingestão habitual de grande quantidade de figos. Ao exame objectivo destacava-se uma má dentição, taquicardia e distensão abdominal com ruídos hidroaéreos aumentados; toque rectal sem fezes na ampola. Foi colocada sonda nasogástrica com drenagem de abundante conteúdo de estase. Analiticamente não tinha alterações significativas. O raio-x simples do abdómen em pé mostrou níveis hidroaéreos no intestino delgado (imagem 1).

Imagem 1. Raio-x do abdómen com níveis hidroaéreos correspondendo ao intestino delgado

Efectuou TC abdominal de urgência que revelou distensão generalizada de ansas do intestino delgado, sem identificar o local da obstrução. Realizou seguidamente ultra-sonografia digestiva que evidenciou no íleon terminal imagem endoluminal heterogénea com área central calcificada sugestiva de bezoar (imagem 2) e pequena quantidade de líquido peritoneal livre.

Imagem 2. Ultra-sonografia digestiva: íleon terminal com bezoar endoluminal (a); reconstrução tridimensional do bezoar intestinal (b).

Foi posteriormente submetido a laparoscopia exploradora com enterotomia longitudinal a 20cm da válvula ileo-cecal e extração de bezoar, parcialmente fragmentado, de 3 cm de maior diâmetro (imagem 3), sem complicações.

Imagem 3. Bezoar intestinal extraído por cirurgia

Comentários:

Os bezoares intestinais são achados relativamente raros e geralmente relacionados com a ingestão de alimentos ricos em fibras. Outras condições clínicas implicadas na sua formação são os distúrbios estomatológicos (como no caso do nosso doente), a cirurgia gástrica, a diabetes mellitus, as doenças do tecido conjuntivo e o hipotiroidismo.

O presente caso demonstra a importância da ultra-sonografia digestiva na abordagem do doente com oclusão intestinal, tendo contribuído para o estabelecimento do diagnóstico e para a decisão terapêutica.

Rita Herculano, Antonieta Santos, Joana Saiote, Catarina Rodrigues, Eduardo Pereira

Hospital Amato Lusitano – Castelo Branco