Caso clínico:Doente do sexo masculino, com 64 anos, avaliado em consulta de Gastrenterologia por diarreia crónica (confirmado tratar-se de esteatorreia) e um emagrecimento de 10kg.
Realizou colonoscopia onde se observaram gotículas de gordura nas fezes, sem outras alterações.
Na endoscopia digestiva alta visualizou-se, no bolbo duodenal, um aparente orifício fistuloso com drenagem de muco associado a uma papila de Vater protuberante, levantando a suspeita de compressão extrínseca (fig.1 e 2)
Figuras 1 e 2 – Imagens da Endoscopia Digestiva Alta
Na TAC visualizada lesão cefalopancreática com 5,8cm, associada a marcada dilatação do Wirsung e ligeira dilatação do colédoco (fig. 3 e 4)
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Figuras 3 e 4 – Imagens da TAC
Realizada Ecoendoscopia que mostrou lesão cefalopancreática heterogénea, contornos irregulares, com múltiplos espaços císticos, sugestiva de NMPI (fig. 5). Efectuada punção aspirativa de agulha fina (fig. 6), tendo a citologia confirmado o diagnóstico imagiológico de NMPI.
Figuras 6 e 7 – Imagens da Ecoendoscopia
A RMN entretanto realizada demonstrava lesão compatível com NMPI, com dois trajectos fistulosos a fazer a comunicação do Wirsung com o corpo gástrico e com o bolbo duodenal (fig. 7 e 8).
Figuras 7 e 8 – Imagens da RMN
A doente foi submetida a duodenopancreatectomia cefálica, tendo a histologia revelado um adenocarcinoma mucinoso enxertado em NMPI (fig. 9, 10 e 11).
Figuras 9 a 11 – Imagens do Exame histológico
Comentários
A neoplasia mucinosa papilar intraductal (NMPI) constitui uma minoria das lesões císticas pancreáticas; apesar disso tem sido diagnosticada com frequência crescente desde a sua descrição inicial em 1982. Trata-se de uma lesão com elevado potencial maligno, frequentemente constituindo um achado incidental em exame imagiológico. Actualmente a maioria dos casos de NMPI são diagnosticados em fase assintomática, sendo a esteatorreia a manifestação mais rara descrita em séries na literatura. A fistulização para órgãos adjacentes está descrita em 11-15% dos casos, geralmente associada a transformação maligna. Apesar de nestes casos a fistulização para dois órgãos não ser rara, a incidência de fístula combinada para duodeno e estômago é de apenas 6%.
Autores
Rita Pimentel, José Castro Ferreira, F. Castro-Poças
Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Santo António, Porto